top of page

 

No Rio Grande do Sul os terreiros são denominados Batuques de Nação. Assim como no Candomblé baiano que se origina de diferentes nações como Keto, Angola, Jêje, Ijexá e vodum, o Batuque gaúcho também se originou a partir de africanos escravizados vindos de diferentes nações como Jêje, Ijexá, Oyo, Cabinda e Nagô.



No entanto, o Batuque gaúcho tem uma identidade própria oriunda da fusão das culturas no cativeiro, onde todos foram misturados pelos charqueadores da região de Pelotas, origem da maioria dos descen-dentes de africanos. Um fato bastante conhecido foi a separação dos escravos por sua origem ou etnia, para dificultar sua comunicação e sua organização para evitar revoltas e possíveis levantes. Assim, foi construída dentro do cativeiro uma padronização do ritual religioso derivada da referência cultural de cada escravo, de cada nação originária.

No campo ritualístico, muitas são as diferenças com o Candomblé, como por exemplo o culto a 12 Orixás e não a 16, como na Bahia. No Batuque temos Bará, Xango, Yansã, Iemanja, Ode/otim, Ogum, Oxum, Oba, Chapanã , Ibeji, Ossanha e Oxalá. Enquanto no Can-domblé existe ainda Oxossi, Euá, LogunEdé, Iroco, Nanã Burukê, Oxumaré e Obaluayê e não são cultuados Ode/Otim, IBeji e Chapanã.

Contamos ainda com uma estatística surpreendente: a região metropolitana de Porto Alegre tem mais de 3 mil terreiros de matriz africana. O número é considerado o maior do Brasil, segundo a Pesquisa “Mapeando o Axé”, promovida em 31 cidades da região pelo Ministério de Desenvolvimento Social em parceria com a Secretaria de Políticas de Igualdade Racial, Fundação Palmares e Unesco.

OS TERREIROS DO SUL


Cosmovisão e Identidade

Mesmo com grande número de adeptos, é muito pouco conhe-cido em termos de detalhes rituais maiores. E, como afirma Corrêa, ao contrário das formas religiosas congêneres de outras regiões do País, não foi feito nenhum trabalho de amplitude que forneça uma idéia mais completa de suas características. Isso demonstra a posição de marginalidade a que estão relegadas as populações negras e suas manifestações culturais no Rio Grande do Sul.

Através desta etnografia visual queremos registrar o Batuque como não somente uma forma religiosa importante do pano-rama religioso do RS.  O Batuque é um patrimônio imaterial pois estrutura as referências culturais e religiosas de grande parte da população gaúcha da atualidade, e como patrimônio vai desvendar uma parte da identidade do povo gaúcho que teve sua história escondida pelo preconceito e pelas perseguições da Igreja Católica aos povos de terreiro.

 

Ser Batuqueiro, então, torna-se uma condição histórica e grupal; a identidade batuqueira é adquirida ou por herança familiar ou na vida adulta em  uma sociedade - a rio-grandense- que se ca-racteriza por não ser batuqueira.



A análise dos cultos é fundamental na medida que embasa a estrutura mental cognitiva que fornece diretrizes para o pensamento social do batuqueiro.  Como afirma o antropólogo Norton Corrêa, as diferenças entre Batuque e Candomblé não se restringem apenas aos nomes dos Deuses ou expressões lingüísticas: subjacente a todos esses elementos, articulando-os, há uma cosmovisão de base também africana (Corrêa, 2006:29).

Etnodocumentário

O roteiro será construído através da identificação e caracterização desta cosmovisão que acabam por influenciar diretamente nos atos da própria vida cotidiana do batuqueiro, desde sua concepção de religião, do espaço-tempo e seu uso, do processo de iniciação, o calendário ritualístico, os mortos e os Deuses.


Nossa intenção audiovisual é, seguindo a tradição do cinema direto brasileiro, explorar a representação do popular enquanto alteridade, conclamando o expectador à práxis multi(trans)cultural brasileira. Como Leon Hizman realiza em muitos de seus filmes, utilizaremos a posição de recuo do sujeito-câmera e exploraremos as imagens como asserções dialógicas.


Para estabelecermos uma narrativa de diversas vozes, faremos uma justaposição dessas imagens com falas de Babalaorixas e Ialorixás das diversas nações, especialistas acadêmicos, pesquisadores , e especialmente, dos anciãos, resgatando assim a memória dos mestres griôs antigos e  a vivência dos contemporâneos.

bottom of page